Documentos
americanos sobre torturas na ditadura militar: revelações
A
assessoria de comunicação da Comissão Nacional da Verdade divulga documentos já
liberados pelo governo dos EUA que tratam da ditadura militar no País. Conforme
a CNV, entre outras coisas, confirmam o conhecimento detalhado que os
diplomatas norte-americanos tinham das técnicas aplicadas no Brasil de prisão
ilegal, tortura e de seu acobertamento.
Pau
de arara, choques elétricos e grávidas presas no DEOPS
Conditions
in DEOPS prison as told by detained american citizen
www.cnv.gov.br/images/pdf/docs/Doc06_53384-5-003.pdf
Memorando com data de 7
de outubro de 1970, traz diálogo de funcionário do consulado dos EUA em São
Paulo com um cidadão norte-americano detido por engano. O preso descreve as
torturas sofridas e condições degradantes dos detentos no Departamento de Ordem
Política e Social (DEOPS), em São Paulo.
(...) para determinar se o prisioneiro estava
ou não mentindo [ele] era levado a uma sala especial nas entranhas do DEOPS e
torturado. (...) O pau de arara era um dos métodos usados. Outro era submeter a
vítima a choques elétricos pelo corpo, inclusive aos órgãos sexuais. Outro,
ainda, era o “Telefone”, em que a vítima é presa a uma cadeira e o
interrogador, atrás da vítima, bate as mãos em forma de concha sobre as orelhas
[do torturado], algumas vezes estourando os tímpanos da vítima com a pressão.
O
emprego de “duras técnicas de interrogatório”
Allegation
of torture in Brazil -
http://www.cnv.gov.br/images/pdf/docs/Doc16_53384-6-006.pdf
Telegrama de número 2386,
emitido em 1º de julho de 1972, faz menção à “ampla evidência de que duras
técnicas de interrogatório ainda estão sendo empregadas”. O documento não
recomenda medidas que condicionem a assistência dos EUA “à impossível
comprovação” de inexistência de tortura no Brasil.
(...)
há vasta evidência de que duras técnicas de interrogatório continuam sendo
usadas em nível regional e local (...)
Tortura
em detalhes e explicações falsas para as mortes de presos políticos
Widespread
arrests and psychophysical interrogation
www.cnv.gov.br/images/pdf/docs/DOCID-437976.PDF
Aerograma A-90, do
Consulado-Geral dos EUA no Rio de Janeiro, com data de 18 de abril de 1973,
descreve detalhadamente diferentes técnicas de tortura aplicadas a tipos
variados de suspeitos. Também relata a prática de informar a morte como
ocasionada por tiroteio durante tentativa de fuga. A explicação falsa deveria
ser usada “para afastar acusações de mortes sob tortura na imprensa
internacional”.
(...)
se o detento não confessa e a opinião [dos interrogadores] é de que ele está
escondendo alguma informação valiosa, ele é submetido a um crescente regime de
agressões físicas e mentais até que ele confesse. Ele é colocado, nu, em uma
pequena sala escura com piso de metal pelo qual pulsa corrente elétrica. O
choque sentido pelo indivíduo, embora descrito como de leve intensidade, é
constante e eventualmente se torna quase impossível de tolerar. O suspeito
costuma ser mantido nesse quarto por várias horas. Ele pode ser transferido
para uma de muitas outras salas de “efeitos especiais” onde aparelhos são
usados para incutir medo e desconforto físico. Extrema fadiga mental e física
costumam resultar, especialmente se a pessoa é submetida a esse tipo de
tratamento por dois ou três dias. Durante todo este período, o detento é
proibido de comer e beber água.
(...)
[vítimas que morrem durante interrogatórios têm suas mortes frequentemente]
reportadas na imprensa, vários dias depois, como ocorridas durante tiroteio com
a polícia depois uma “tentativa de fuga" [do detido político].
O
relato de um torturador
Political
arrests and torture in São Paulo
http://www.cnv.gov.br/images/pdf/docs/CFPF.1973SAOPAULO00985.pdf
Telegrama 985, do
Consulado dos EUA em São Paulo, emitido no dia 8 de maio de 1973, descreve
sessões de tortura e execução relatadas em primeira mão por um “informante
profissional e interrogador que atua em centro de inteligência militar em
Osasco/SP”. O relato de um interrogador militar que diz ter torturado e matado
suspeitos de “subversão”.
(...)
um informante profissional e interrogador que atua no centro de inteligência
militar em Osasco (subúrbio industrial de São Paulo) nos contou (...) como ele
tinha desbaratado um grupo comunista do qual um policial civil fazia parte. O
policial foi persuadido a falar com choques elétricos nas orelhas e revelou seu
envolvimento com uma amiga, que também foi presa. Sem cooperar, ela foi
colocada no “pau de arara” durante 43 horas sem água e comida. (...) Ele [o
interrogador] também narrou o assassinato de um suspeito de subversão. (...) No
último ano, diversos agentes de segurança confirmaram a nós que a morte de
suspeitos de terrorismo é prática comum. Estimamos que até 12 tenham sido
mortos em São Paulo apenas no último ano.
As
detenções na Universidade de São Paulo (USP)
Student
arrests
http://www.cnv.gov.br/images/pdf/docs/Doc21_CFPF.1974BRASILIA02493.pdf
Telegrama 2493, de 13 de
abril de 1974, aborda detenções ocorridas na Universidade de São Paulo (USP) e
contém referência ao advogado José Carlos Dias, hoje membro da Comissão
Nacional da Verdade. Descreve o clima na Universidade de São Paulo em 1974 e
contabiliza as prisões de estudantes e professores
Um
novo assunto que tem agitado os estudantes [da Universidade de São Paulo] é a
reportada detenção de 33 estudantes, professores e intelectuais desde 26 de
março. (Guardas do DOPS disseram ao cônsul geral que mais de 20 estudantes
haviam sido presos). (...) João Carlos Dias, advogado de renome (...) falou a
uma assembleia de estudantes nesta semana – segundo fonte, “em tom
violentamente contrário ao governo”.
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